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sexta-feira, 17 de junho de 2011

“RENOVA-TE, RENOVAÇÃO, DE JOELHOS!”

Carta Aberta aos participantes da Renovação Carismática Católica
Sorocaba, 16 de setembro de 2004
Aos caríssimos e amados irmãos e irmãs, líderes, amigos, Coordenadores, Conselheiros, servos, enfim, da Renovação Carismática Católica do Brasil.
“Hoje, uma nova era está se desenvolvendo diante de vós: aquela da maturidade eclesial. Isto não significa que todos os problemas tenham sido resolvidos. Na verdade, é um caminho a percorrer. A Igreja espera de vós os frutos maduros de comunhão e comprometimento”.
(João Paulo II, aos Movimentos Eclesiais e
Novas Comunidades, no Pentecostes de 1998)
Cientes da responsabilidade que toca a cada um de nós – especialmente enquanto liderança – na busca efetiva dos caminhos que nos podem conduzir a esta almejada maturidade, prosseguimos com renovado empenho em escutar e obedecer à palavra do Senhor, que nos exorta: “Levanta-te, Brasil, de joelhos!”.
Como sabem, o tempo de meu mandato recebido para estar na Presidência do Conselho Nacional da RCC findar-se-á em dezembro próximo (2004). Fui eleito inicialmente para um período inicial de 2 anos, terminado o qual eu poderia –, se o Conselho assim o entendesse –, ser reconduzido ao cargo por um adicional período de mais 2 anos. Porém, durante o próprio processo de eleição, por sugestão de Dom Alberto Taveira, o Conselho houve por bem já conceder-me de imediato um período de 4 anos – tanto para evitar o desgaste de um processo de reeleição, como por considerar que, dada a então presente situação, seria necessário mesmo um período maior do que o de 2 anos para se reorganizar tudo aquilo que almejávamos.
E, por fim, o Conselho Nacional concordou ainda em conceder-me mais 8 meses, fazendo com que os mandatos expirassem sempre em dezembro (e não em abril, como vinha acontecendo), coincidindo assim com o fechamento do ano civil (o que é melhor do ponto de vista contábil e de planejamento das atividades).
Em 2003, um grupo de Conselheiros sugeriu uma revisão dos Estatutos, e na reunião foi aprovada a possibilidade (não existente) de se poder, de novo, submeter o meu nome para concorrer às eleições por mais um período de 4 anos.
Alguns amigos do Conselho – e outros, de experiência na RCC do Brasil – tem me sugerido que, talvez fosse interessante eu aceitar concorrer novamente, pois que com isso – segundo eles – se poderia concluir – ou organizar mais concretamente – alguns projetos que foram inspirados durante a minha gestão.
Agradeço imensamente o carinho e a confiança em mim depositada da parte desses irmãos, mas acredito piamente que, se formos fiéis ao Senhor – permanecendo em escuta, clamando em oração, e deixando-nos realmente conduzir pelas inspirações do Espírito no lugar de nossas pretensões humanas à margem de Sua luz, Deus dará à RCC do Brasil, nestas eleições, a pessoa que Ele já tem em Seu coração, e que por certo estará capacitado a fazer o que eu poderia fazer, e – além disso – muito mais! É possível um novo ânimo, uma nova e atualizada visão, um novo ritmo conforme o compasso que o Senhor tem reservado prá nos nesses tempos de nossa peregrinação eclesial.
Assim, pois, é que reafirmo: não sou candidato. Muitos não crêem nisso, mas, é verdade: não sou candidato. Já quando da aprovação dessa possibilidade, em 2003, eu dizia aos 7 membros do Conselho que tinham votado contra: “Não se preocupem. Primeiro, porque a decisão será sempre do Conselho (não se trata de um artifício para se “perpetuar no cargo”);e segundo, porque é necessário que eu queira ser candidato...”.
Pois bem: não o sou!... Permitamos ao Espírito Santo trabalhar de fato em nossos corações. Abramos mão de nossas posições pré-concebidas (em relação a mim, inclusive – ainda que positivamente), e tenhamos presente esta realidade: a obra é do Senhor; se não atrapalharmos, o Senhor cuidará dela, e nos dará a pessoa segundo o Seu coração. E se assim o for, ganharemos todos. Não haverá “perdedores”, derrotados...
Tenho alguns “privilégios”: permanecerei como membro do Conselho Internacional da RCC (ICCRS) por um período que poderá se estender por até mais 6 anos (depende daquele Conselho), e por conta disso continuo como membro do CONCCLAT – nosso Conselho Latino-Americano – por quanto tempo estiver no ICCRS, onde faço parte do Comitê Executivo.
No Brasil, como ex-presidente, continuarei participando do Conselho Deliberativo por mais 4 anos, onde pretendo –, como o fui antes de ser Presidente –, continuar servindo a Renovação Carismática de maneira ativa e comprometida, tanto nessas instâncias, como também em meu Grupo de Oração ou onde quer que eu seja chamado ou enviado.
Por conta disso, gostaria de aproveitar a ocasião e partilhar com todos na Renovação Carismática alguns sentimentos que trago em meu coração com relação à caminhada do Movimento conforme pude acompanhar nos últimos anos, e sugerir alguns direcionamentos que talvez possam nos ajudar a adentrar neste processo de almejada maturidade eclesial.
1. Compromisso – De vez em quando alguém me pergunta: “Como vai a Renovação Carismática pelo Brasil?”. Respondo: “Existe de tudo um pouco”. E é fato. Há realidades que são verdadeiros motivos de alegria para o meu coração de coordenador, com a liderança comprometida e empenhada em fazer acontecer a graça de Pentecostes. Líderes e coordenadores que procuram caminhar em plena sintonia com as diretrizes emanadas tanto do Conselho Nacional com das outras instâncias de coordenação. Líderes que buscam acolher e repassar para o seu povo as diretrizes referentes à formação, aos projetos discernidos pelo Conselho. Não só criam, mas apóiam verdadeiramente seus ministérios, facilitando-lhes a participação em eventos que lhes dizem respeito e cuidam para que esses eventos de formação sejam reproduzidos a nível de sua realidade de coordenação, garantindo assim a concreta vivência da dinâmica carismática, bem como a comunhão e a unidade de expressão da Renovação Carismática. Também é verdade, porém, que em todos os níveis, deparamos-nos com muitos que na realidade praticam uma espécie de “renovação particular”. Entendem o “movimento não uniforme” – dos Estatutos internacionais –como uma “licença para fazer as coisas do jeito que eu bem entendo”. Não acolhem os direcionamentos – exceto naquilo que lhes interessa –, não os repassam para os seus liderados, e agem como se não estivéssemos ligados eclesialmente por laços de coordenações colegiadas, representativas. Parecem se considerar apenas “beneficiários” da graça, e não, também, co-responsáveis de seu estabelecimento e difusão. Não se empenham nas iniciativas que visam viabilizar e dar sustentação aos projetos da Renovação (por exemplo, 55% das Dioceses, há anos, não pagam ao Escritório Nacional a contribuição (estatutária) que lhes é de dever; a Revista Renovação, orgão oficial do Movimento, com encarte exclusivo para a formação e enriquecimento dos Grupos de Oração (e cujo custo sai a R$2,00 por mês), não tem mais que 3.000 assinaturas em todo o Brasil). Coordenadores que foram eleitos para representar o seu povo junto ao Conselho, e o Conselho junto a seu povo, e não fazem nem uma coisa e nem outra. Boicotam as informações. Não demonstram interesse (quando não dificultam) em que seu povo se inteire das diretrizes do(s) Conselho(s). Não fazem, e não deixam que façam. E quando fazem, fazem-no com aquela visão de que, “aqui mando eu, e faço como acredito ser o melhor para a nossa realidade”. Sem falar nos que colocam “na boca” do Conselho coisas que nunca o Conselho o determinou, ou sequer sugeriu.
E encontramos, assim, realidades ditas carismáticas totalmente alheias à identidade do Movimento, gerando muitas vezes conflitos desnecessários com o clero local, com a hierarquia, e induzindo o povo a uma prática carismática que não tem legitimidade e nem articulação. Pergunto: você sabe se o coordenador eleito pelo seu Conselho tem participado das reuniões do Conselho para o qual ele foi eleito? Ele tem se inteirado das diretrizes desse Conselho e repassado as informações para o Conselho que o elegeu? Tem acompanhado os direcionamentos de formação e de atividades? Tem atuado em comunhão com outras instâncias de coordenação?
Do Conselho Nacional, por exemplo, alguns membros – eleitos pelos diocesanos de seu estado – passam mais de ano sem aparecer nas reuniões (são só 2 por ano; de 5, faltam 3, por exemplo), havendo mesmo gente que já vai terminar seu mandato, e até hoje só participou de uma reunião. (Consulte-nos por e-mail, se quiser saber do seu).
Alguém poderia dizer: talvez essa pessoa não tenha condições financeiras de viajar, de ausentar-se de sua casa... Acontece que essas pessoas estão sempre presentes em outros eventos de nível nacional e até regionais (e, creiam: até internacionais), porque tais eventos dizem respeito ao ministério pessoal que elas escolheram para si.
Não temos nada contra a participação delas em outros eventos. Apenas ressaltamos que se elas não iam poder representar seus Conselhos, que não tivessem assumido. E o nosso Regimento diz, em seu Art. 11º:
A participação nas reuniões, de forma completa, constitui, para os Conselheiros, dever decorrente da natureza dos seus cargos, e para os assessores e consultores, constitui compromisso inescusável, salvo motivo de força maior, sempre que forem convocados.
2. Critérios – Parece que “a culpa” por esta situação de lideranças descomprometidas com os objetivos da RCC é um pouco de nós todos.
Que critérios temos observado na escolha de nossas coordenações? Temos nos colocado à escuta do Senhor para tal? Levamos em conta o chamado de Deus – a vocação –, ou guiamo-nos apenas por critérios humanos? Os eleitos são frutos de um acurado discernimento e oração, ou foram eleitos por: a) articulações? b) por ter melhor condição financeira? c) porque “não havia outro” que assumisse? d) porque era “a vez” da “minha turma”? Por estar mais disponível? e) porque era o que tinha mais tempo de caminhada?
E por que me candidatar a cargos de coordenação? a) porque o Senhor “me falou” (mas não falou para os demais)? b) porque creio que com a coordenação irei auferir vantagens pessoais? c) porque tenho futuras pretensões políticas? d) porque recebi o apoio do “político de plantão” que quer, no futuro, instrumentalizar o apoio da RCC à sua própria candidatura (ou inibir a de outras)?
Neste particular, a tentativa de manipulação política da RCC tem gerado dores e divisão. Transpõem-se para dentro do Movimento os métodos de articulação (e aliciamento) comuns às disputas políticas, relegando-se a segundo plano a vontade de Deus.
Queremos, sem dúvida alguma, apoiar e ter representantes nossos em todas as esferas da lide política. Só não podemos permitir que este relacionamento interfira negativamente em nossos propósitos, desviando nossos olhares do rumo para onde o Senhor aponta, para “costurar” caminhos que atendem à pretensão de quem queira se servir de Renovação para realizar seus projetos pessoais, instrumentalizando o Movimento e fazendo dele mero trampolim. Não se pode permitir que interesses e manobras de cunho político determinem o ritmo, a ação, e – através de coordenações eleitas por articulação – os direcionamentos da Renovação Carismática. A história aponta para os resultados deploráveis que resultam de alianças feitas sem discernimento entre poder espiritual e poder político (haja vistas a resistência de nosso povo em “misturar” fé com política).
Vejam, irmãos e irmãs, que os critérios humanos, o bom senso, logicamente também são úteis no processo de discernimento (tempo de caminhada, experiência anterior em algum tipo de coordenação, afinidade ministerial, disponibilidade, etc.). Mas eles devem somar-se ao discernimento, e nunca ser o seu fator determinante. Capacidade organizacional não é o mesmo que revestimento pela unção; e cultura, de per si, não se identifica com visão profética. É preciso levar em conta o carisma para a coisa, o chamado divino, a unção. Fora disso, bem sabemos o que acontece, e, a realidade viva está aí para quem quiser fazer a devida leitura. “São por demais conhecidos os resultados desastrosos, quando não calamitosos, do trabalho de pessoas que se engajam em atividades da Igreja, sem ter recebido de Deus os dons necessários para tal. Mero ativismo não é o mesmo que a atuação carismática” (Arnold Bittlinger, Dons e Ministérios, Edições Paulinas).
O Senhor capacita os escolhidos, sim. Desde que Ele tenha sido “ouvido” nesta escolha.
É exatamente porque “Ele capacita os escolhidos” que os critérios humanos não devem ser a razão principal de nossa escolha. Quando é Deus que chama, ainda que o chamado não reúna – aos olhos dos homens – condições para o trabalho, Ele capacita.
Notem que, a correção da situação de “equívoco carismático” com que nos deparamos em muitas realidades, só depende de nós... Depende de nós permitir que a vontade de Deus se sobreponha à dos homens. Depende de nós devolver ao operar do Espírito a condução das coisas que lhe dizem respeito. Ou permanecer “fazendo de conta” que somos “guiados por Ele”, e vivendo na “periferia” da graça carismática...
3. Purificação – Deus tem nos falado de muitas e diferentes maneiras a respeito de um eminente reavivamento na Renovação Carismática. Tem dado sinais de que “a Renovação está grávida de renovação”. Está falando – pelo papa, pela Igreja, pelo povo, pelos fatos – que estamos envoltos em um processo privilegiado – de feridas abertas, de dores, de decepções, de desvios, de barreiras, de crises... mas de maturidade, de redirecionamento, de volta ao primeiro amor, de um novo despertar... de coragem profética! Sim, coragem profética de deixarmos que coloquem o dedo em nossas feridas, e desinstalem-nos de nosso comodismo espiritual, de nossa dependência à carismaticidade meramente emotiva, de nossas justificativas quanto às divisões dentro da grande graça carismática, e até mesmo que nos chamem a uma maior consciência a respeito de nossa responsabilidade quanto a uma crescente banalização da prática de alguns carismas...
Uma das características de todo reavivamento é a purificação. Todo despertar espiritual é sempre precedido de uma “via purgativa”, dolorosa. Daí a necessária coragem profética para se deixar mexer naquilo que está a “embolorar-se”, a cheirar mal, ou a crescer de forma aberradora. Pois falar dessas coisas não nos torna populares, não nos torna “aceitos”, e nem nos granjeia a aprovação das pessoas...
Amar a todos os que estão equivocadamente em serviços nos quais lhes falta a unção, sim. Sem, porém, compactuar com o erro, permitindo, por comodismo ou covardia, que o povo de Deus se veja privado das bênçãos espirituais que Ele nos tem reservado para estes tempos. Ter, cada um de nós, coragem de romper com os erros – nossos, ou de outros –, e permitir que o Senhor assuma em todas as nossas atividades o Senhorio que tanto anunciamos ser dele. Que o Senhor não nos permita de continuar caindo na tentação de usurpar-lhe o senhorio sobre as coisas que lhe são de direito! Poderemos enganar a muitos, mas não ao Senhor. E que terrível deverá ser o final de quem trapaceou com o Senhor em questões de senhorio...
4. De joelhos – Uma outra característica dos reavivamentos é que eles são sempre precedidos de um grande movimento de oração. Pessoas (Charles Parham e Inês Ozman, em 1901) equipes (os dirigentes de Cursilho, em agosto de 1966), grupos (reunidos em Pittisburgh e South Bend, nos E.U.A.), e... os próprios apóstolos (quer na descrição de Lucas (At 2) ou de João (Jo 20),) manifestavam na oração sua sede (Jo 7, 37), seu profundo anseio pelas coisas de Deus, quando foram visitadas de forma especial pelo operar do Espírito.
A oração abre a porta para o derramamento do Espírito Santo. Quando há uma fé expectante, um ardente desejo de Sua presença manifestada em um povo de oração, o Espírito Santo quebra as barreiras, desfaz as resistências, pois nada é demasiadamente difícil para Ele. E se derrama, se doa em profusão, se manifesta em abundância.
Nas origens, fomos sempre identificados como um povo que só sabia rezar. Alguém já disse: e se perceberem que nem rezando direito estamos mais?
Há pessoas e grupos em fervorosa e carismática vida de oração, sim. Mas ela deixou de ser a base constante e inconfundível de nossa espiritualidade – como um todo –, e em muitas e muitas realidades já não se identifica mais o povo da Renovação como “um povo de oração”. E nem sequer de louvor! (a menos que identifiquemos louvor apenas com certos momentos de cânticos e oração em línguas, quando não apenas com cânticos de nosso vernáculo, mesmo). Não há mais ensino sobre vida pessoal de oração, e sobre louvor. Supomos que as pessoas já o sabem e praticam, apenas por participar de algum momento tido por carismático. Esses são temas que se tornaram raros em nossos Grupos de Oração...
Por diversas vezes e de diferentes maneiras, o Senhor nos tem chamado à redescoberta do valor da oração, nos últimos tempos. “Os olhos do Pai procuram adoradores”, proclamava o Senhor através do Congresso Nacional dos Artistas Carismáticos, no ano passado; e reforçava, na reunião do Conselho: “Levanta-te, Brasil, de joelhos”.
É certo que muitas atividades vem sendo desenvolvidas por muitos irmãos em diferentes realidades, nessa área. Alguns livros também estão sendo escritos sobre o assunto, e outros estão em andamento. Mas, que tal estabelecermos um MINISTÉRIO DE ADORAÇÃO? Que tal termos alguém (pessoas, grupos) pensando um direcionamento, uma formação, um caminho inspirado a respeito da prática da adoração? Alguém que nos motive, exorte, ensine, tudo aquilo que possa nos levar à prática da adoração como ministério?
Deus tem colocado em minhas mãos diferentes sinais de que esta também é sua vontade para a Renovação: termos em nossos Grupos, Ministérios, Conselhos, Eventos, pessoas pensando, praticando e conduzindo o povo de Deus à adoração.
Vou propor isso na próxima reunião do Conselho, em outubro próximo. Não sei bem, ainda, como isso tudo vai acontecer, mas convoco aqui a todos os que já sentem esse chamado e já estão envolvidos “informalmente” com esse ministério, a que partilhem conosco suas experiências, e ajudem-nos a coletar material para a reflexão e organização inicial do mesmo. (Escrevam para o Escritório Nacional, por favor!).
5. Ministérios na RCC – Os ministérios (antigas “Secretarias”) na RCC são “criados” (organizados a nível nacional) ou “extintos” (enquanto realidades ligadas ao direcionamento direto da Presidência e do Conselho Nacional) conforme as necessidades de se levar adiante os objetivos discernidos para a Renovação. Os Ministérios ligados organicamente ao Conselho Nacional (pois eles podem existir independentemente da Renovação Carismática, enquanto organismo, bem como de estar organizado a nível nacional) devem:
a. prestar-se a organizar, criar subsídios de formação e impulsionar os serviços decorrentes do exercício de um determinado carisma, na Renovação Carismática.
b. orientar esse serviço segundo as moções do Espírito, em comunhão (e destaque) para os direcionamentos que o Conselho Nacional venha a discernir. Ou seja, eles são organizados para dar rosto e visibilidade ao pensamento do Conselho a respeito de como cada ministério deve encarnar em suas atividades os direcionamentos do Conselho.
c. se um grupo organizado à guisa de ministério opta por institucionalizar aquilo que considera o seu carisma, sem considerar os direcionamentos específicos do Movimento (que, por sua necessária organização, já “institucionalizou” aquilo que seria necessário para garantir o diálogo e a comunhão com a Igreja como um todo), tem legitimidade em sua pretensão, mas não tem mais porque continuar atrelado ao Conselho Nacional, ao qual deveria representar. Ou seja, quem assim atua deve assumir-se como uma expressão carismática independente – no sentido de organização – do Conselho. E pode – aí sim – ter fundador, estatutos, caixa, objetivos, coordenações, e eventos, à parte do Conselho Nacional. (E inclusive responder por si mesmo diante da hierarquia da Igreja).
Neste sentido estarei também colocando na Pauta de Discussões do Conselho uma avaliação de nossos atuais ministérios. (Sugestões, observações, considerações sobre os ministérios em realidades locais serão bem vindas).
6. EQUILÍBRIO – Alguns pregadores insistem em querer ligar o arrefecimento da dinâmica carismática à “excessiva racionalidade”, ao acentuado “intelectualismo”, à “exagerada atenção” dada à formação na RCC.
Pergunto: será que é coerente crer que nosso povo está demasiadamente envolvido em processos de formação, e por isso já não vive sua identidade carismática como deveria?
Ora, nem é verdade que nosso povo está excessivamente voltado à questão de formação (oxalá estivesse), e nem é verdade que uma coisa seja a causa da outra.
O que ocorre, sim, é o fato de muita gente acomodar-se em relação à formação, porque dedicar-se a ela não dá tanto “Ibope” como outras atividades mais estrepitosas. Muitos coordenadores promovem encontros na linha do aparente “reavivamento”, da “adrenalina”, da agitação, da cura pela cura, do espetáculo, da presença de nomes enaltecidos pela mídia (TV, especialmente), de atividades, enfim, que garantam sucesso de público (e às vezes, de dinheiro).
Isso tudo, certamente, pode até ser muito bom, mas o resultado de investir somente neste aspecto, relegando a formação – que garante a perseverança serena e duradoura do exercício da fé – a segundo plano, tem trazido resultados desastrosos à RCC em muitas realidades.
Uma das maiores causas de barreiras em relação à RCC nas dioceses diz respeito às conseqüências do comportamento de líderes mal formados, que, com uma visão parcial – e medíocre – da verdadeira identidade e propósito da Renovação, se arvoram em praticar os ministérios segundo “as revelações que o Espírito lhe faz diretamente”. (Sem falar nos pregadores que sabem – superficialmente – “de tudo”, e se põem a transmitir o que na realidade eles mesmo não dominam. Mas como eles sempre põe em seu programa a palavra “cura” – com os necessários “testemunhos” –, muitos preferem a eles (público garantido) aos próprios coordenadores de ministérios, a quem compete de fato desenvolver a formação em suas áreas específicas, e em comunhão com as diretrizes da RCC.
“Uma das tarefas mais urgentes da Igreja de hoje é a formação dos fiéis leigos (...) Por conseguinte, ela deve ser uma das vossas prioridades (...) A fé esmorece quando se limita ao costume, ao hábito, à experiência meramente emotiva. Ela deve ser cultivada, ajudada a crescer, tanto a nível pessoal como comunitário”, nos alertava o Papa, em abril de 1998, falando aos dirigentes da Renovação na Itália. Urgente, pois, que as coordenações, com coragem profética, abram mão do aparente “sucesso” e assumam a tarefa que lhes compete como líderes do povo de estabelecer critérios para a realização de eventos, propiciando o necessário equilíbrio entre iniciativas com perfil de animação e outros com caráter de formação, para que a correta visão doutrinária conduza à adequada prática, garantindo-se assim a solidez da fé sem abrirmos mão de nossa identidade (todos estamos “cansados” de ver gente muito eufórica e cheia de ativismo que, depois do primeiro “tranco”, abandona a Renovação... e às vezes, a própria Igreja!).
Consideremos também que, a fé no Espírito Santo (a história o demonstra!) “precisa de ser incessantemente reavivada e aprofundada na consciência do povo de Deus” (João Paulo II, DeV, 2) (...) “À Cristologia, e especialmente à eclesiologia do Concílio, deve seguir-se um estudo renovado e um culto renovado do Espírito Santo, precisamente como complemento indispensável do ensino conciliar” (idem, citando Paulo VI).
Estudar de modo renovado. Aprofundar. Estabelecer um culto renovado do Espírito Santo. Não ter essas coisas, pois, por supostas...
7. Mais de Ti, Senhor! – Depois de um considerável – e inevitável – período dos trabalhos organizados sob a noção de “secretarias”, a Renovação desperta agora para um novo período onde nosso comportamento precisa se caracterizar pela visão dos ministérios, que considera, na base de todo serviço, um carisma, e não uma organização!
Dar aos nossos trabalhos o tratamento de ministérios significa, entre outras coisas:
- redifinir – ou ajustar – nossos critérios na escolha de nossos coordenadores (de qualquer instância, mesmo), considerando sempre a vontade de Deus mais que quaisquer outras vontades.
- procurar relacionar o carisma requerido com a função (ou trabalho) a ser desenvolvido, lembrando sempre que a presença de um talento não é necessariamente a garantia da presença de um carisma.
- considerar que é fácil prover habilitações necessárias ao exercício de um cargo a quem tem o carisma para determinada tarefa, e que é impossível (a nós, homens) conferir carisma a quem tem somente as habilidades.
- ter sempre presente na mente que a obra de Deus só se faz com o poder de Deus, que Ele concede sempre aos que Ele escolhe, e não aos que nós escolhemos sem levar em conta Sua vontade, Seu chamado.
- enfim, por, em tudo, mais do Senhor do que de nós próprios.
Este é o tempo. Esta é a visão: colocar mais de Deus em todas as coisas; menos de nós. Renunciar aos nossos planos pessoais, abrindo-nos com docilidade às modificações que o Espírito queira fazer em nossos projetos. Morrer, para brotar...
Como líderes, perguntarmo-nos: Estou fazendo realmente o que Deus quer? Fui escolhido e vocacionado por Ele para aquilo que faço, ou eu mesmo escolhi o meu ministério, o “meu” carisma, o meu serviço?
Para as coordenações, meu nome foi discernido pela comunidade, pelo Conselho, pelo meu grupo, pelos que oram comigo... ou foi sugerido por mim mesmo – direta ou indiretamente –, sutilmente, disfarçadamente articulado?
Tenho pensado como autêntico pastor no povo que Deus me confiou? Tenho sido fiel na retransmissão daquilo que me compete partilhar e direcionar? Tenho oferecido “verdes pastagens e águas tranqüilas” para as ovelhas que o Senhor pôs em meu caminho? Tenho sido fiel na preservação de nossa identidade, na busca da comunhão, e no empenho pela missão? Ou tenho “feito” a “minha” própria “renovação”?
Sugiro que, sozinhos e também com nossos núcleos, façamos uma serena reflexão sobre nossas vidas, tendo em mãos o texto (anexo) “CONFISSÕES MINISTERIAIS”, de Horatius Bonar, publicado no Boletim “Arauto de Sua Vinda”, da Revista Impacto. E perguntarmo-nos: o que tem sufocado a chama do Espírito em nós? Em mim? E pedir ao Senhor fortaleza e determinação em renunciar ao que quer que esteja nos atrapalhando.
8. LÍDERES – Os assuntos aqui pontuados requerem o envolvimento e o empenho das diferentes estâncias de participação na RCC. Ao povo em geral, de modo concreto, compete avaliar a situação em que se encontra verdadeiramente a RCC em sua realidade (Grupos de Oração, Ministérios, Núcleos, Coordenações, atuação dos Conselhos, perfil dos eventos e dos pregadores), a comunhão com as devidas instâncias de coordenação da RCC por parte dos que o representam, etc, e colaborar com suas lideranças, ajudando-as – e, às vezes, cobrando-as – a discernir, com espírito de caridade e paz, sobre os rumos que os novos tempos da graça de Pentecostes está a reclamar.
Papel especial, porém, tem a liderança da RCC nesse processo. “Como líderes da Renovação Carismática Católica, uma de suas primeiras tarefas é a de preservar a identidade das comunidades carismáticas espalhadas pelo mundo inteiro, incentivando-as sempre a manter uma ligação estreita e hierárquica com os Bispos e o Papa. Vocês pertencem a um movimento eclesial; a palavra eclesial implica numa tarefa precisa de formação cristã, envolvendo uma profunda convergência de fé e vida. A fé entusiástica que dá vida às suas comunidades deve ser acompanhada por uma formação cristã que seja abrangente e fiel ao ensinamento da Igreja. De uma formação sólida surgirá uma espiritualidade profundamente enraizada nas fontes da vida cristã e capaz de responder às perguntas cruciais colocadas pela cultura de nossos dias. Em minha recente encíclica ‘Fé e Razão’, faço uma advertência contra o fideísmo que não reconhece a importância do trabalho da razão não apenas por compreensão de fé, mas até por um ato de fé em si mesmo.”
É a nós líderes que o Senhor cobrará quanto à condução do Seu povo. Temos permitido que Ele pastoreie Seu povo através de nós, ou temos usurpado Seu ministério, conduzindo Seu rebanho segundo nossos caprichos, nossos interesses, nossa obstinação, como se não estivéssemos a Seu serviço?
9. O benefício do voto – As eleições que estão por se realizar em inúmeras realidades da RCC do Brasil, no momento, é uma especial ocasião para começarmos a corrigir rotas e viabilizarmos as condições para que as mudanças que o Senhor está a apontar, aconteçam.
Algumas pessoas estão “encalacradas” no cargo; não fazem, não deixam outros fazer, e ainda arranjam infindáveis subterfúgios para continuar no cargo (inclusive argumentando que é “a vontade do bispo... ou do pároco”... ou até mesmo do Espírito Santo!).
Todo Conselho (todo) tem a obrigação de apresentar, em Estatuto/Regimento, regras claras de sucessão de coordenação, considerando-se sempre a comunhão com a Igreja Particular local, bem como com o Regimento da RCC Nacional – sem contudo, “absolutizá-lo” (Alguns Coordenadores, por exemplo, estão usando o Regimento do Conselho Nacional para dizer que agora “o tempo de coordenação é de 4 + 4 anos”. Ora, é claro que este período busca contemplar uma realidade do tamanho do Brasil, com quase 30 estados e mais de 270 dioceses). Ele não é parâmetro para outras realidades, que já receberam orientação específica sobre a constituição de seus Conselhos, anos atrás.
Usando sempre de bom senso e discernimento – e sem se esquecer de que toda coordenação, mais do que uma autoridade, é uma instância de serviço –, disponhamo-nos a aprimorar nossas coordenações, que só se identificarão com ministérios se realmente estiverem a serviço do bem comum, - traço distintivo de todo carisma.
10. Gestos concretos – Convoco a todos os amados irmãos e irmãs a colaborar com o Conselho Nacional no sentido de colocar em marcha algumas iniciativas que o Senhor vem apontando para a RCC do Brasil. Não vou detalhá-las (algumas já são do conhecimento da grande maioria de nosso povo, e, outras dependem ainda da devida aprovação e adaptação por parte do Conselho Nacional, em outubro próximo), pois com certeza brevemente as teremos devidamente enunciadas, com as orientações e sugestões relativas à implantação das mesmas. São elas:
a. em ressonância ao convite profético feito à Renovação Carismática pelo Papa João II para liderar a celebração da Vigília de Pentecostes neste ano, em Roma, organizar, doravante, em comunhão com os párocos, a celebração da Novena de Pentecostes em todas as Paróquias (e capelas) onde for possível. (O Escritório Nacional por certo disponibilizará subsídios para isso, oportunamente).
b. promover, a partir dos Grupos de Oração, e em comunhão com o Projeto Queremos Ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida, Missões nas casas situadas ao redor do local onde funciona o Grupo – ou das participantes do mesmo – sempre de modo a não conflituar com o que a Paróquia já realiza (se realiza), mas em cooperação com a mesma e sem desprezar a identidade carismática que nos é própria.
c. retornar à realização de Experiências de Oração, de Seminários de Vida no Espírito (em seus diversos matizes), facilitando-se sempre a participação máxima do povo (verificando-se a carga horária, o local, os dias da semana, etc.).
d. empenhar-se no Projeto Levanta-te, Brasil, de Joelhos, acreditando que a promessa de Deus de levantar o Brasil conta com a participação de cada um de nós nesta grande obra de soerguimento do povo brasileiro no reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
CONCLUINDO: Há muito por se refletir; mas o Senhor dará a cada um de nós, no momento certo, as condições para realizar Sua vontade e responder à sua vocação. Basta colocarmo-nos à escuta, e sermos dóceis às inspirações de Seu Espírito.
Neste momento, peço, no Senhor, que cada um que desta Carta tiver conhecimento nos ajude a divulgá-la o mais amplamente possível (use sua lista de e-mail, seu G.O., seu núcleo, seu boletim e tudo o que estiver a seu alcance).
Peço, de modo muito especial, a todos os que trabalham em cargos de coordenação, que disponibilizem este material para todo o seu povo, e não meçam esforços em levar adiante os ajustes que se fizerem necessários em sua realidade.
Que ninguém tenha medo: na obra do Senhor não há desempregados. Há lugar para todos... Só não podemos permitir, por conformismo ou falta de coragem profética, que aquilo que começou como uma possante moção e intervenção do Espírito de Deus se contente em continuar apenas com a força humana.
Lembro-me aqui de uma advertência que nos fazia Walter Smet, teólogo dos primeiros tempos da Renovação Carismática:
“Que a redescoberta de Pentecostes efetuada pelo Movimento não volte à condição de ‘paraíso perdido’, como ocorreu nos séculos passados. Cumpre que o cuidado pela ordem, por mais importante que seja, evite a assepsia excessiva. Já nos prevenia Paulo: ‘Não apagueis o Espírito’ (ITes 5,19)”.
E termino com esta oração de Dom Helder Câmara:
“Como é importante, Senhor,
Estar a cada instante - a cada fração de segundo - no lugar exato previsto em teus planos divinos, lá onde posso render mais com tua graça, para ajudar-te a levar a termo os teus grande mistérios...”
Que Deus nos abençoe e nos sustente na fidelidade à Sua vontade.
Com um abraço carinhoso e agradecido;
Salve Maria, a Virgem de Pentecostes!
Reinaldo Beserra dos Reis
Presidente do Conselho Nacional da
Renovação Carismática Católica do Brasil

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